sexta-feira, 22 de maio de 2015

Professores e alunos


Professores e alunos
 
Há uns anos fiz uma investigação em várias escolas secundárias de Lisboa. Depois de ter analisado os problemas dos jovens que tinham feito tentativas de suicídio, quis saber o que pensavam sobre o tema alunos que nunca tivessem ido a uma consulta de Psiquiatria. Numa das escolas conheci uma professora do Conselho Executivo com quem travei um inesquecível diálogo.
Depois de lhe explicar o objetivo do estudo, pretendi falar com os estudantes. Respondeu-me que não valia a pena, poderia falar com muitos alunos na minha consulta hospitalar. Disse-lhe que queria falar com jovens… normais. Então encostou-se na cadeira, segurou os óculos de lentes grossas e disse-me: «NORMAIS?! Normais aqui nesta escola? Não existem!» 
É preciso esclarecer pais e professores que a maioria dos jovens é normal, isto é, atravessa a adolescência sem perturbações emocionais graves. Em termos simples, direi que um adolescente normal tem dificuldades transitórias nas diversas tarefas de que tenho falado: relação com os pais e com os companheiros e questões ligadas ao amor e à sexualidade, mas não fica bloqueado no seu caminho para a idade adulta.
Quer dizer, um adolescente normal pode ter algumas zangas com os pais, disputas com os seus pares ou alguma rutura afetiva que o perturbe, mas progride no sentido da autonomia e da formação de valores. Um adolescente patológico insulta os progenitores, não passa nos estudos, consome drogas, não namora, nem sai à noite, faz tentativas de suicídio ou foge de casa.
Os professores são agentes privilegiados na deteção de jovens em risco. Um professor atento pode arrumar lentamente os seus papéis a ver se alguém quer falar com ele no fim da aula. Um professor disponível marca um encontro de 10 minutos se pressente que o aluno tem alguma coisa para lhe dizer, mas não trai a sua confiança se a mãe lá aparece a perguntar o que se passa.
Tudo isto é difícil quando as escolas são em regras mastodontes degradados ou edifícios prefabricados de má qualidade, onde alunos em excesso andam de um lado para o outro como quem vai a um emprego aos 50 anos. Os livros de texto falam de matérias estranhas como floresta caducifólia, mas não ensinam as capitais da Europa.
Os professores são mal pagos e às vezes estão lá porque do mal o menos. Ora, o professor pode e deve ser decisivo para estimular a criatividade do aluno ou ajudá-lo num momento difícil. Para isso é preciso que medite na sua atividade e, apesar das condições difíceis, tente promover alguma mudança.
 
Sem arrogância, aqui vão algumas sugestões para professores de adolescentes:
 
1 – No princípio do ano escolar, promovam o diálogo com os alunos sobre o que vai ser o trabalho da disciplina. Verifique as expectativas, doseie o entusiasmo de alguns e estimule a maioria.
2 – Mantenha os alunos ativos durante todo o ano. Elabore questões e peça respostas. Trabalhe por problemas e objetivos.
3 – Não fale na importância da participação nas aulas se no fim do período tenciona dar a nota correspondente à média dos testes, quer o aluno participe ou não.
4 – Dê poucos trabalhos de casa; grande parte deles não são feitos ou são copiados antes da aula.
5 – Promova visitas de estudo, tendo em conta as sugestões dos alunos. Não os leve àquilo que acha importante para si mas que não tem nada a ver com eles.
6 – Seja firme em questões de disciplina desde o início. Se não atua rapidamente nesta área, não conseguirá ensinar.
7 – Não vá tomar cafés com os alunos, nem os convide para discotecas. Ensinar não é seduzir (vá apenas com eles se for convidado por um grande grupo. Mesmo assim, reflita).
 
Daniel Sampaio
A Cinza do Tempo
Lisboa, Ed. Caminho, 1997
(adaptação)

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