terça-feira, 15 de março de 2016

Os adolescentes portugueses têm um problema com a escola. E tem piorado

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por Andreia Sanches, jornal Público.
Os adolescentes portugueses sentem-se mais apoiados pela família. Queixam-se menos de dores de cabeça, de estômago, de dificuldades em dormir. São dos que mais tomam o pequeno-almoço todos os dias, o que, é sabido, é bastante saudável. Têm consumos de álcool ligeiramente abaixo da média observada noutros países. E fumar vai sendo menos frequente. O novo grande estudo internacional sobre a adolescência, da Organização Mundial de Saúde (OMS), faria respirar de alívio milhares de pais em Portugal se ficássemos por aqui. Mas não é o caso. Primeira má notícia: os adolescentes portugueses são dos que gostam menos da escola, em 42 países e regiões analisados. E piorou bastante nos últimos anos.
"Quando em Portugal perguntamos do que é que gostam na escola, as aulas aparecem em último lugar. Pior que as aulas, só mesmo a comida da cantina. E isto tem sido recorrente, somos sempre dos piores no gosto pela escola e na percepção de sucesso escolar. Não há nenhuma razão demográfica ou geográfica que eu conheça que explique tal, e o atraso provocado pelo obscurantismo de antes do 25 Abril (sendo uma incontestável verdade) já devia, por esta altura, estar ultrapassado.” Quem o diz é Margarida Gaspar de Matos, a investigadora que em Portugal coordena este estudo da OMS desde que, em 1998, o país começou a participar. (...)

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quinta-feira, 10 de março de 2016

Maggy, a fada!...


 O conto apresenta a personagem Joana, uma menina detentora de uma curiosidade extraordinária no que respeita às histórias contadas pela avó. A curiosidade e a fantasia acabam por se fundir e Joana conhece a filha mais nova da Grande Fada dos Sonhos que a transporta para o mundo da personagem da última história contada pela avó e pela qual Joana se interessara ...

O livro foi apresentado na biblioteca da EBS pela mão da autora (Lídia Machado dos Santos) e da ilustradora (Anabela Vila Nova) no dia 8 de Março.

Encontra-se disponível para compra na BE, dispondo a BE de um exemplar no seu acervo.

Custo do livro: 12,90

Notas sobre a autora:

Lídia Machado dos Santos é licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, Ensino de Português e Inglês e Português, História e Ciências Sociais. Atualmente é docente na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Bragança.

Estreou-se na escrita com o livro Filhos do (In)Fortúnio editado em 2014.

Maggy, a fada!... é o seu primeiro conto infanto-juvenil.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Conto Árabe: divisão de camelos...

 Um homem, que tinha 17 camelos e 3 filhos, morreu.


Quando o testamento foi aberto, dizia que metade dos camelos ficaria para o filho mais velho, um terço para o segundo e um nono para o terceiro.

O que fazer? Eram dezassete camelos; como dar metade ao mais velho? Um dos animais deveria ser cortado ao meio?

Tal não iria resolver, porque um terço deveria ser dado ao segundo filho. E a nona parte ao terceiro. É claro que os filhos correram em busca do homem mais erudito da cidade, o estudioso, o matemático. Ele raciocinou muito e não conseguiu encontrar a solução. Matemática é matemática.

Então alguém sugeriu: "É melhor procurarem alguém que saiba de camelos não de matemática". Procuraram assim o Sheik, homem bastante idoso e inculto, mas com muito saber de experiência feito. Contaram-lhe o problema.

O velho riu e disse: "É muito simples, não se preocupem".

Emprestou um dos seus camelos - eram agora 18 - e depois fez a divisão. Nove foram dados ao primeiro filho, que ficou satisfeito. Ao segundo coube a terça parte - seis camelos e ao terceiro filho, foram dados dois camelos - a nona parte. Sobrou um camelo: o que foi emprestado.

O velho pegou seu camelo de volta e disse: "Agora podem ir".

Esta história foi contada no livro "Palavras de fogo", de Rajneesh e serve para ilustrar a diferença entre a sabedoria e a erudição. Ele conclui dizendo: "A sabedoria é prática, o que não acontece com a erudição. A cultura é abstracta, a sabedoria é terrena; a erudição são palavras e a sabedoria é experiência."

quinta-feira, 3 de março de 2016

Deveríamos estudar cinema nas escolas

Deveríamos estudar cinema nas escolas


Infelizmente, a maioria das pessoas acredita que o cinema é apenas um passatempo, um entretenimento. Porém, o cinema apresenta funções múltiplas. O cinema disseca e esfola a realidade externa e interna. E muito terá a ganhar quem tiver olhos para ver, ouvidos para ouvir, coração para sentir e cabeça para pensar.
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Cena de Os sonhadores, de Bertolucci. Os sonhadores são cinéfilos.
 
Deveríamos estudar cinema nas escolas como estudamos filosofia, ciências humanas e artes. Não me refiro ao estudo técnico, com o intuito de formar diretores, roteiristas, fotógrafos ou produtores. Ensinar a criar um argumento, fazer um story-board, redigir e decupar um roteiro, conhecer os variados movimentos de câmera e orientar os atores são competências que devem ser ensinadas em faculdades, cursos técnicos e livres especializados na área.
Me refiro ao estudo teórico e intelectual. Me refiro ao entendimento do cinema como uma disciplina de entremeio, isto é, uma disciplina que engloba mais de uma área. Cinema é arte, comunicação e tecnologia ao mesmo tempo. Para o filósofo argentino, professor da Universidade de Brasília, Julio Cabrera cinema é filosofia. Para ele, cinema e filosofia deveriam ser estudados por todas as pessoas por se tratarem de importantes formas de se fazer pensar. Cabrera vai além. Ele diz que o cinema faz pensar afetivamente.
Infelizmente, a maioria das pessoas acredita que o cinema é apenas um passatempo, um entretenimento. Muitos filmes servem apenas para divertir mesmo e não há problema algum nisso. Quem não gosta de ver um filme para rir, se emocionar ou sentir medo?
Porém, o cinema apresenta funções múltiplas. O cinema diverte, leva a catarses, informa, educa, conscientiza, suscita reflexões, divulga conhecimento e estimula o autoconhecimento. Por meio do cinema aprende-se sobre culturas variadas, depara-se com temas tabus, repensa-se valores, desconstrói- se e reconstrói-se conceitos, questiona-se o poder instalado nas macro e microestruturas. O cinema perpassa todos os âmbitos da sociedade e do ser humano, desnudando estruturas injustas de poder instaladas nas esferas privadas e públicas, revelando um mundo que poderia existir, propondo mudanças ou um novo olhar para o mundo existente.
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Catherine Deneuve em A bela da tarde, de Luis Buñuel. O célebre cineasta espanhol revolucionou a gramática cinematográfica para denunciar as instituições e adentrar no mundo das pulsões.
 
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Claudia Cardinale em Fellini 8 e meio. O célebre cineasta italiano brincou magistralmente com os limites entre realidade e fantasia, fazendo um cinema metalinguístico.
 
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Cena do filme Gritos e sussurros, de Ingmar Bergman. O célebre cineasta sueco promoveu uma profunda sondagem psicológica em filmes que combinam temas incisivos com uma estética elaborada.

Diferentemente do que a maioria das pessoas acredita o cinema não é uma arte menor ou menos profunda do que a literatura, por exemplo. Cada arte tem o seu valor e importância. Cada arte tem os seus pontos fortes e apreciar mais ler do que ver filmes ou vice-versa pode ser considerada uma questão de gosto. Podemos encontrar em todas as artes muitos exemplos de obras profundas, medianas ou rasas.
Se a sondagem psicológica é o ponto forte da literatura, o ponto forte da música é despertar rapidamente emoções muito marcantes, podendo até mesmo mudar o estado de espírito de quem a escuta. As artes plásticas também promovem reações instantâneas, sem falar, que podem ser entendidas independente do idioma.
Todas as artes podem interferir na linguagem das outras e a questão da idade não deve ser considerado um requisito para definir uma hierarquia entre as mesmas. A jovem fotografia inspirou o impressionismo e libertou os pintores de retratar a realidade. A literatura interferiu na linguagem do cinema, mas a sétima arte também promoveu mudanças à literatura contemporânea , proporcionando à mesma um olhar mais intimista e fragmentado.
A televisão, mais especificamente a teledramaturgia, é a continuação das novelas de rádio que nasceram dos folhetins. As novelas mesclam elementos narrativos e estéticos do cinema e do teatro.
Se o cinema fosse visto como uma possibilidade de conhecimento e autoconhecimento, como um meio de reavaliar valores, quebrar tabus e preconceitos e reorganizar estruturas de pensamento, ele poderia gerar importantes e grandes transformações individuais e coletivas. Sabe-se que o cinema é capaz de promover profundas mudanças a longo prazo. Outras artes também poder nos fazer refletir e rever valores, como o teatro e a literatura, por exemplo. Mas o cinema envolve uma questão sensorial que extrapola o intelecto e abstrato e atinge os sentidos, promovendo sensações de nojo, piedade, simpatia, aceitação ou rejeição de forma muito visceral.
Se o hábito da leitura é excelente para treinar a concentração e a imaginação, o cinema trabalha um outro tipo de criatividade. Se a literatura parte do abstrato para imagens que formamos em nossa mente, o cinema pega o outro sentido da rodovia. Ele parte da imagem para o abstrato, para os conceitos, para as ideias. Mas se assistimos apenas a filmes para passar o tempo ou que reforçam visões preconceituosas e estereotipadas do mundo, o que poderia ser um antídoto contra a exclusão, o etnocentrismo, a violência torna-se mais um alimento para uma sociedade pautada pelos ideais hedonistas e imediatistas da nossa cultura materialista.
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Cena do filme Clube da luta, de David Fincher. Diferentemente dos valores pregados pela sociedade, no filme ganha quem perde

Filmes como Clube da luta e Um dia de fúria questionam os valores da sociedade de consumo. Filmes como Beleza Americana e Pequena Miss Sunshine, o american way of life. Filmes como Sociedade dos poetas mortos, O sorriso de Mona Lisa e Escritores da liberdade, o papel libertário do professor. Filmes como O inquilino e Cisne negro, a mente de um esquizofrênico. Filmes como Lua de fel e Veludo azul, o sofrimento gerado pelas perversões. Filmes como A bela da tarde e Foi apenas um sonho, o lado B do casamento. Filmes como Gritos e sussurros e O silêncio, as obscuridades familiares. Filmes como Menina bonita, O sopro do coração, Trinta anos esta noite e Perdas e danos ( os quatro de Louis Malle) o lado sensível dos temas tabu. Filmes como O açougueiro e Em suas mãos, o lado humano dos psicopatas. Os exemplos de como um filme pode elucidar temas e mostrar culturas e personalidades é extremamente amplo e complexo.
Em resumo: deveríamos ter um docente que falasse e mostrasse filmes capazes de fazer as crianças e adolescentes pensarem afetivamente, a fim de que se tornassem jovens e adultos mais lúcidos nos sentidos ético, moral, estético e psicológico, sendo mais capacitados para fazer escolhas conscientes e consistentes.


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